sexta-feira, março 30, 2007

"Muros" e muros

O liberalismo tem principios teóricos importantes para o funcionamento racional da sociedade moderna. Os conceitos de defesa da propriedade privada, a crença nos direitos naturais do homem e o zelo pela racionalização dos recursos públicos, são facetas de uma realidade que trouxe mais dinamização da economia e da máquina estatal.

O problema é quando, em nome desses princípios, o público é tratado como privado. Isso acontece de várias formas, inclusive quando o Estado é convocado a gastar menos a qualquer custo. Portanto, em nome da retenção de recursos, o Estado se pragmatiza. Tudo se torna válido para que o produto final seja alto e com o menor gasto possível - e ainda chamam isso de racionalização.

É assim que os "muros" são criados. "Muros" e muros. Gasta-se menos numa muralha que divide os Estados Unidos do México, do que investimentos sociais que conteria os contigentes latinos em suas nações. Fica mais em conta dividir a Palestina de Israel com muros, do que investir numa longa discussão diplomática, mesmo que o lado "mais forte" perca alguns de seus benefícios. E assim, uma barreira simbólica é erguida juntamente com os cercamentos de concreto e aço, sepando pessoas em troco de um resultado aparentemente satisfatório.

A administração da UFV partiu do mesmo pressuposto, pois, gastar-se-á menos em grades do que em vigias para as entradas secundárias. Então, o pragmatismo da administração se revela a medida que, o investimento nos cercamentos, é inferior à projetos sociais relevantes para um melhora significativa nos indicadores sociais de Viçosa. O que adianta ter um campus mais seguro, sendo que os "delingüentes" continuarão antes das quatro pilastras? Assim sendo, a UFV torna-se uma organização à parte de Viçosa, sendo importante pra ela, tão somente, sua segurança, mesmo que para isso a cidade continue como está.

Contudo, não nos enganemos: somos tão mesquinhos quanto essa administração, uma vez que, esses "muros" existem antes dos muros. Nos cercamos em nossa mediocridade, quando nos decidimos manter nossa "vidinha" acadêmica distante da realidade da cidade. Por isso, a reitoria apenas levantou as cercas onde as bases já estavam lançadas, ou seja, dentro de nós mesmos.

Enfim, nosso silêncio denuncia nossa parcela culpa, e o barulho, nossa capacidade de agir quando as coisas já aconteceram. E continuamos assim: remediando o que poderia ser evitado. Está na hora de nos erguermos contra tudo isso, não apenas em protestos ou em textos carregados de emoções, mas em atitudes comprometidas com o próximo, no nosso cotidiano. Usemos nosso conhecimento como chave libertadora, para assim, lamentarmos com honestidade toda essa lastimável situação.


segunda-feira, março 26, 2007

à procura


Voltei. Ufa, até que enfim. Quase um mês sem postar nada. De fato, a duas ou mais semanas atrás eu escrevi um texto. E confesso sem falta modéstia que eu gostei. Pra ser sincero, não me lembro do que se tratava. Só sei que parecia uma obra prima. Mas deu tudo errado: deu pau e foi todo deletado.

Fiquei irado. Sem exagero, me senti como um esculpidor que vê sua obra derrubada pelo vento. Resolvi escrever de novo. Aí que a raiva veio maior: não consegui manter a coesão das palavras como antes. Preferi deletar e escrever outra coisa, porém, não saiu nada digno de ser lido. Diante disso, dei uma desanimada. E hoje volto, com tudo, na tentativa de ser sincero e compartilhar algo relevante.

Hoje começou o primeiro dia letivo na universidade que estudo. Estou cheio de expectativas. Tenho muito trabalho pela frente, tanto acadêmico quanto em outras esferas da minha caminhada. Não gostaria de citar um a um, mas sim, tentar exprimir com essas palavras, algum sentimento que sugira meu atual estado.

Estou procurando a motivação certa para execução de minhas atividades. Vivemos em busca disso. E afirmo que nessas férias, deixei que minhas projeções mentais para período servissem de ânimo para mim. Hoje penso que, apesar de isso em partes não ser ruim, vejo que é insuficiente.

Quero ser motivado pela graça de Deus, sobretudo, no reconhecimento das minhas fragilidades. Tento lembrar todos os dias que passo, aquela confortadora palavra de Jesus: "sem mim nada podeis fazer". Isso sim é motivação. Minha imaginção fértil pode até me trazer idéias, mas nunca conforto de que, tudo que faço, é só pela graça.

Daí, eu descanso. Entrego o volante e passo para o banco de trás. Isso não significa inatividade ou preguiça, no entanto, confiança naquele que está no controle de todas as coisas. Sou apenas um cooperador, simples e completamente dependente de Deus.

Contudo, as palavras atuam também facilitando ou amaciando a realidade. Nos abandonar em total confiança em Cristo é uma tarefa difícil. Demanda oração, leitura da Bíblia, desabafos com amigos, choro, frutrações e outras coisas mais. Mas estou disposto, por mais que doa, confio no que me espera.

Nunca quero esquecer: a mediocridade, apesar de atraente, nunca será páreo para os que esperam no Senhor. Não porque esses são fortes, mas sim, porque o incômodo daqueles que Nele esperam, é o verdadeiro antídoto contra esse engano. Quero esperar no Pai, na certeza que minha forças serão sempre renovadas por ele.

Um grande abraço, aos meus amigos leitores.

quinta-feira, março 01, 2007

A Verdade e a capa


Lá vem eu de novo. Depois de tanto tempo fora de ar, retorno com um pouco mais de mim. Venho novamente decepcionar minhas expectativas de expor temas relevantes para todos, como o título do blog já sinaliza. No momento em que me encontro, só posso falar de mim mesmo.

Deus tem me dado coragem, apesar da minha relutância. Prefiro o medo. Não sei porque isso acontece. Quando abro as Escrituras vejo tanta coisa que Deus me oferece, porém, continuo confiando nas minhas forças. Incrível!

Minha capacidade de tentar prever a reação dos outros revela dia-a-dia minha fraqueza. Meu desejo de agradar todo mundo. Minha vontade de ser bem aceito supera minha integridade. Meu egoísmo me faz querer manter algumas pessoas ao meu lado, sem deixar de excluir tantas outras.

Eis que surge o meu lamento: "o mal que não quero, esse pratico"[1]. Porém, insisto em manter-me aquecido com minha capa hipócrita da boa aparência. Sou patético, confesso. No entanto, sou convidado a desmascarar minha mediocridade.

Esse convite é reforçado quando aproximamos de Cristo, o Logos, a Verdade que virou carne. Essa Verdade é libertadora, foi assim que o próprio Jesus afirmou. A incoerência se instala quando falamos da Verdade mesmo quando essa não nos liberta. Sendo assim, nosso discurso se torna vazio e distante da nossa realidade. Nos alienamos. E a capa continua, nos aquecendo e confortando.

Quero ser "desencapado", mesmo que isso atinja minha imagem. Atualmente, nem tenho ligado tanto pra ela assim. Sabe por que? Porque reconheço que apesar de ser imagem e semelhança de Deus, sou essa imagem distorcida e danificada pelo pecado. Isso significa que capa alguma é capaz de disfarçar essa realidade. Minha segurança diante meu disfarce é enganoso e aparente.

Em meio a tudo isso, agradeço a Deus por sua Graça, por ele me oferecer aquilo que não mereço, por não me dar a condenação que me era por direito. Sua misericordia me motiva a ser grato. Meu desejo de mudança surge então num desejo de retribuir ao Pai àquilo que Ele já fez por mim.

Meu pessimismo não me desanima. Muito pelo contrário. Vou nesse caminho da vida lamentando minha fraquezas sem me esquecer naquele que me fortelece. Portanto, posso dizer que a Graça de Cristo me basta e, que sua Verdade, me direciona a livrar dos meus medos, rumo ao conhecimento de Deus e de mim mesmo.

[1] Romanos 7