quinta-feira, dezembro 18, 2008

A Tua Graça...


Imagem extraida de:
http://www.casadacultura.org/arte/arte_digital/angel_estevez/Abstrato_4.jpg

Cenas horríveis de se vê. Assim que me sinto diante de sentimentos que perpassam minhas faculdades mentais. Pensar é um exercício emocional também. Por mais racionalista que um indivíduo possa ser, todo seu intelecto é inundado pelos flashs incessantes das emoções. É dialético, como uma síntese que se transforma sempre em uma nova tese em busca do seu oposto. O resultado disso são imagens que abarrotam nossas mentes. Elas produzem sensações que contrastam com nossas certezas. Tiram nosso chão, nos obrigando a ter que flutuar assim mesmo, sem tempo de aprender.

As opções que temos são poucas: ou se rende ao que se vê ou caminha sem se importar. Minha impressão é que essas duas vias acarretam tantas outras que a encruzilhada que vejo tem direções infinitas. E quem liga para impressões? Eu, sim, eu me importo com elas. Desse jeito, no meio a essas conclusões percebo minhas limitações. Dificilmente eu saberia me resolver frente às imagens ilusórias que vislumbro. E Deus aqui não aparece como o super-herói que vem para resolver os problemas do menino moço bomzinho.

Longe disso! O Deus todo podereso é o Deus que deixa. Não pelo gosto do sofrimento alheio, mas pelo preço colocado diante nossas escolhas. A graça não anula o valor das nossas decisões, pelo contrário, ela as reforça. É daí que vem a força que precisamos, pois é nos ares que podemos ver o Senhor de perto. Meio inquieto, com pouca coragem, posso ouvir aquela voz melodiosa dizendo: "a minha graça te basta".

Minha resposta é silenciosa. E prossigo fraco, mas consciente da sua presença.

Isso me basta!


sexta-feira, dezembro 12, 2008

Palavras



Palavras avulsas, sortidas, sem nexo.
Como o Eu que se encontra num lugar desconhecido.
É bem longe, distante de tudo.
Lá elas tomam corpo e tornam-se vãs.
E mostram que toda verdade é antes provada pelo vazio.

Os vários sentimentos se colidem em discussão,
na decisão de se fundirem com o nada.
Até que vem o vento e embaralha todos os retalhos.
Dispersos, desencarnam.

Vem o silêncio.

domingo, dezembro 07, 2008

Minha Cecília


"O vento do meu espírito
soprou sobre a vida.
E tudo que era efêmero se desfez.
E ficaste só tu, que és eterno..." (Cecília Meireles)


Posso te chamar de musa?
Se me inspiras, por que não te chamarias?
Tuas palavras, teus sonetos, teus convites...
Sim, eu aceito! Dancerei com vc nas nuvens,
correrei sobre os outreiros no horizonte.

Posso te chamar de minha?
Se navego nos teus sonhos, porque não serias?
Tuas ilusões, tuas imagens, tuas viagens...
Sim, eu aceito! Regaremos nossos jardins de insonia
com a melancolia que nos embriaga.

Sim, tudo sim, apenas sim, minha Cecília!

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Além de tudo ela é a cara da minha mãe! rs


segunda-feira, dezembro 01, 2008

Amar-amaro


Te libero para
ser aquilo que não deixo. Vá para
onde não quero. Ande, antes que eu desista!

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Ai de mim,
homem de ânimo dobre!

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Dificil,
penso.
Não me deixo levar.
E me calo para sentir as
contradições que me cercam.
Normal é se entregar, o certo é não resistir.
Quero o que quero. Tu sabes!

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Decifre meu
coração e leve
o que é teu.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Um banquinho, uma visão



Foi deitado num banco velho que vi tudo isso. Debaixo de uma árvore com uma relva que cobria todo o chão. Nem tive muito ânimo para observar os prédios antigos a minha volta. Fechei os olhos e apenas senti um cheiro agradável das flores e deixei meus ouvidos abertos para ouvir aquele barulhinho bom: pássaros, vento, cachorros que latem...


Com aquela camisa xadrez sobre meu rosto, deixei meu corpo entregue ao conforto daquele espaço. Mesmo cansado, nem dormi, apenas pensei. E percebi o quanto Deus me ama, o quanto isso é suficiente para mim. A expressão perfeita deste amor é deveras visível, seja nas relações com os amigos ou até mesmo no encontro pessoal com esse Deus através do Espírito Santo.


É, não tenho tempo mais para lamentar aquilo que não vivi ou reclamar daquilo que me incomoda. Enquanto eu descansava naquele lugar belo, muitos sofrem sem poder olhar para natureza e perceber que até ela clama pela redenção. Qualquer murmuração se torna mesquinha em meio a um mundo perdido, imerso na incerteza e no desamor.


Não dá continuar a correr tão forte atrás do vento. O mundo clama por nós. Os desabrigados que se irritam com a chuva, os deprimidos que não dormem nem descansam, as vítimas de abuso sexual, os amigos que choram por companhia, os alcoolistas mal amados e os milhares marginalizados pelo sistema opressor comandado pelo príncipe deste mundo.


Preocupar-me demasiadamente com a prova de amanhã sem ter sensibilidade com aquele que sofre é patético. Ou revemos nossas prioridades ou nos entregaremos à mediocridade que conserva a podridão, corrói a alma e detona a esperança. Que a nossa voz se misture com a da natureza num coro em uníssono: Maranata, ora vem Senhor Jesus!


quinta-feira, novembro 20, 2008

Suas palavras são densas. Desde as primeiras frases me perco. Tento voltar o raciocínio e me embaraço novamente. Na eminência de desistir, um enunciado chama minha atenção. Animado, avanço no entendimento. Sim, são palavras de vida! Trazem esperança, mas desnudam meu interior. Me animam sem me tirar aquele incômodo que me espreme na parede e diz: quem você realmente é?

Ao pensar na pergunta, me desiquilibro novamente. Perco o fio da meada. Volto a olhar a imensidão de suas palavras e só vejo um todo que é denso, imenso. Meu olhar limitado capta mais um fragmento do seu discurso. Aquilo que senti no momento anterior me ajudou a ver melhor. São palavras de morte! Evocam o luto esquecido e o choro escondido na multidão das minhas ocupações vãs.

Minha mente está ainda em ressonância. Os sons vibram em velocidade constante. O efeito traz múltiplas sensações: um pouco de alegria, vergonha, medo, decepção, coragem... tudo isso ao badalar de uma música que atrai essas notas ao lugar mais profundo de mim.

Até que você pára de falar. As luzes apagam mas ainda vejo o espectro do seu rosto. Que olhar sombrio! Não bastava falar? Tem que externalizar isso em expressões que refletem meu estado mórbido de ser? Sim, sua aparência era semelhante a um espelho sem cor. Diante do turbilhão de imagens, sons, sentimentos, senti-me diferente. Nem bom, nem ruim, apenas estranho. Senti falta de um abraço.

quinta-feira, novembro 13, 2008

Faz parte de mim


Faz parte de mim. As preposições que se polarizam no interior fazem parte. E aquela dialética sem síntese toma conta de tudo, inclusive de mim. De um lado o eu, e de outro, o não-eu. O conflito de ser, não-ser ou ser-outro prossegue. O alívio vem na luta, no suor, nas gotas de sangue. "Pai, afasta de mim esse cálice"! Ufa! Dizer isso refrigera, mesmo consciente de que terei que tomar o que você esteve pronto para beber.

Não me importo. O sabor do fel com vinagre não substitui a glória de saber que você está por perto. Assim, aquele gosto amargo se adocica no mesmo momento que me contorço ao degustar esse ferrugem amalgamado em minha boca. Cuspo. Bebo água. A doçura vem em minha mente, mas minha boca continua cheia desse gosto horrendo: faz parte de mim.
Surge uma voz que diz: "Vem". Confuso, pergunto: "Seria comigo mesmo"?

Faz parte de mim.

Não há mais tempo. É hora de ir, assim, desse jeito mesmo. Vou, com esse gosto amargo, com o delírio imaginativo da doçura, assim mesmo, pois faz parte de mim.

sábado, novembro 08, 2008

Poesia interna

Desde semana passada venho na tentativa de escrever algum poema. Todas minhas elaborações se frustraram diante tanta feiura que encontrava em minhas palavras. Pensei que o sofrimento poderia me inspirar. Sofri, mas nada veio. Achei que a alegria me iluminaria. Balela: sorriso algum constrangeu minh'alma a expressar a beleza lírica dos sentimentos que me cercam. Recorri aos meus inspiradores por excelência. Nem Cecília Meireles, nem Vinícius de Moraes... nem mesmo meus amigos poetas! Ambos falharam no meu processo inspirador. Busquei no amor latente que me envolve, solve, move... nem este me elevou à poesia que tanto me incomodava, mas não saía de mim. Resolvi não tentar mais. Afinal, há tempo pra tudo: tempo de sentir, tempo de transformar lágrimas em versos e alegria em poesia. Enquanto isso não ocorre, continuo a sentir - este é meu tempo. Vou poetizar com o que sou, sem caneta, nem papel, mas com um lirismo interior, da alma.

segunda-feira, novembro 03, 2008

O mundo de ponta-cabeça

Aprendi a andar com as mãos

Vejo tudo do outro lado

Enxergo tudo pelas metades

Ao tentar olhar pra frente, o pescoço dói

Perdi minhas esperanças no contrário

Pois o normal é o mundo ponta-cabeça

Se não consigo me desvirar, porque tudo não se vira?

Dizem que o pior é não tentar.

Minha lamentação nem é essa.

Passei dessa fase.

O pior é conseguir.

Pois nem sempre se conquista o que quer.

Quem me convencerá que isso é o melhor?

Continuo vendo tudo trocado.


(Achei esse texto perdido entre minhas coisas. Não me lembro da ocasião em que escrevi.)

domingo, outubro 26, 2008

O princípio das dores



O silêncio ainda é pouco para expressar o que eu preciso. E as palavras me fogem quando as procuro para ti. Os lábios se calam, a alma grita concorrendo com os milhares de pensamentos vagantes em minha mente. Mas tu Senhor, tem as palavras de vida eterna, sendo estas como torrentes que invadem a fortaleza do meu coração. O que eu espero é que a sensação de acaso se esmoreça pelo clamor da tua providência. Que venha o teu reino!

Amém.

(Oração escrita a exatamente 2 meses atrás. Ao encontrá-la escrita em papel não perdi tempo: postei-a)

quarta-feira, outubro 22, 2008

Vi



Subi num monte alto para ver o mundo. Na esperança de enxergar o belo, vi tudo rarefeito, como fumaça. O verde se miscuia com outras cores fortes que se transformara numa onda que eu não conseguia descrever. Não podia nem ver as nuvens, quando estas se dissipavam nos outeiros desnudos e acidentados que me encontrava. O retrato que tirei saiu assim, meio bom, meio ruim. Insisti. Esfreguei os olhos, balancei a cabeça, respirei fundo... vi. Meio embaçado pelo ardor dos olhos irritados, me deparei com um cenário diferente do anterior. As nuvens tinham formas humanas. Sorridentes, cercavam o monte com um abraço aconchegante que me causava euforia. Ao levantar, me escorei sobre o ipê que eu ao menos reparei quando cheguei. Quando coloquei minha mão para avistar melhor a paisagem, caiu uma flor amarela sobre meus ombros. Nem deu tempo de ver o resto. O click certeiro me possibilitou a melhor das sensações que ali experimentara. Não perdi tempo: agradeci o ipê. Meio sem jeito, dei-lhe um beijo na testa e voltei caminhando, mas olhando para trás.

sábado, outubro 18, 2008

Apenas


Tomou conta.
A areia invadiu a cidade.
Só vejo dunas.
Não há casas, praças, massas...
Apenas areia.

Vi então o mar de ressaca
As ondas tomaram a serenidade.
Trouxeram lixo, lixo e lixo.
Te procurei e não achei.
Apenas areia.

Olhei para o céu.
O cinza roubou o azul.
Tem raio, trovão, chuvão...
Não há no que se alegrar.

Apenas areia.
Vi então uma passarinha
Que banhava sua filhotinha.
E brindando com o vento,
Se jogava no horizonte nebuloso
Não mais areia,
Não mais cinza,
Apenas passarinha.

quarta-feira, outubro 15, 2008

Na escada com vocês



Ao mirar seus olhos minhas convicções banais deram espaço ao novo. Você, você e você. São tão especiais! Capazes de despertar saudade antes da partida. Dai penso que a eternidade tem um tempo curto demais para nossos momentos. Por que tudo passa? Nem adianta formular alguma justificativa. O ontem é sempre melhor do que o amanhã. E sabe por que? Porque no ontem vocês estão sempre presentes. E o depois? Não acredito em lembranças. Creio em presença mística, como se fossem corpos ausentes que se encarnam no espírito. Na escada que leva ao sublime, fotografias se transformam em monumentos, quando os multiplos sorrisos se juntam num só. Já não sei se sou eu ou você, apenas subo!

sexta-feira, outubro 10, 2008

O menino que dança

Lá vai o menino cabisbaixo. Chutando uma tampinha de refrigerante, se distrai com a folha verde que cai no chão. Ao tropeçar no asfalto quebradiço, olha pro lado e não encontra ninguém para rir do tombo. E sozinho ele caminha, sorrindo de si mesmo.

Ao dobrar a esquina, percebe que o sol já se pôs. Ele consegue até ver as luzes dos postes se acendendo. Ao pegar a tampinha que o divertia, lembrou-se do refrigerante que tomara tantas vezes em companhias inesquessíveis.

Assim, o gosto do guaraná enche sua boca. Com os olhos fechados e os braços abertos, o menino dança uma valsa em tom menor. Regido pelo som do vento, ele se reencanta com sabor que lhe veio a mente. E o mais legal: nem se sente mais só!

segunda-feira, setembro 29, 2008

ENTREGA



NÃO
VOU FALAR NADA MAIS.
ME CALO. SINTO.
ME EMPUTEÇO, ESMOREÇO.
DOU SOCOS NO AR. ME ASSENTO.
COLOCO A CABEÇA ENTRE OS JOELHOS
ME LEVANTO. TENTO, MAS NAO CONSIGO
REPITO E ERRO.
DESISTO. CHORO...
MAS RECOMEÇO.
E ENFIM, CANSADO, ME ENTREGO A ELE.
E EM PAZ ME DEITO E PEGO NO SONO...


Reflexão feita dia 24/09 na aula de Pensamento Brasileiro. Na falta do que fazer... contemplo! rs

quarta-feira, setembro 24, 2008

Voando com o vento

Foto: eu na praia em Cabo Frio - RJ

Não vou repetir os clichês de outrora, até porque,

a previsibilidade das minhas palavras denunciam o que sinto.

Escolho então me entregar ao vento,

pois sei que aquele que sopra sabe para onde vou.

Ao voar no horizonte, tenho saudade do que deixei

Mesmo quando danço com as aves,

a nostalgia me faz perder o balanço. Ao pousar sobre as ondas,

lembro da areia fofa e das conchinhas do mar que ajuntei.

Com o vento, decido voltar para meu lugar.

Não mais o mesmo, pois quem tocou o pôr do sol não

pode andar com os mesmos passos.

E de braços abertos espero por ele, pronto, para a próxima viagem.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Em viagem

BOX
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Com um sorriso na mente e um abraço guardado,
parto para uma viagem rumo ao desconhecido.
Não sei se volto e nem pra onde vou.
Mas sei que você estará comigo para onde eu estiver.
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BOX




quarta-feira, setembro 10, 2008

A melodia desconhecida


Imagem: http://ramalho.com.sapo.pt

Que sentimento é esse que não consigo descrever?
As palavras fogem, os sentidos somem, a mente pára!
Pensei que sabia, achei que entendia, mas a única coisa que sei é que é forte, confuso, caótico...
refexo de mim, eu sei.

É como uma música bonita que se ouve sem saber quem toca.
Você procura, corre pra conhecer, mas não acha!
E o pior: a melodia não sai da minha cabeça,
é tão boa de ouvir!

Com tudo isso, a poesia faz mais sentido pra mim.
O amor triste encarna em meu ser,
no paradoxo vivo da solidão e do bem querer;
e sigo assim, cantando a canção que não conheço, mas amo!

quinta-feira, setembro 04, 2008

O Triunfo da Providência

Não adianta tentar escapar da providência de Deus. O fato é que mesmo sabendo disso, vivemos como amigos do acaso, e como tais, esperamos mais dele do que de Deus. Assim, temos nossas expectativas firmadas num destino fluido, em que tudo pode acontecer. Dai vem a tônica do "depende de nós".

Ser senhor de si dá nisso: falsa segurança e esperança na sorte. Aquele que confia em si mesmo depende do lançamento de dados de seu deus pagão. Viver sob a providência de Deus, ao contrário, é duvidar do eu, é esperar naquilo que se não vê, é ter certeza que o caminho só tem horizonte nEle.

Vivo assim, em uma guerra declarada contra o acaso. Batalha essa que me traz grandes baixas: sentimentos mutilados, certezas decepadas, coração contrito; alma atingida, mente ferida, esperança aflingida. Até a alegria da salvação através da Graça perde seu sabor diante de um inimigo tão sagaz.

Mas luta não pára. Apesar das baixas, não cesso de me empenhar. Descubro com o tempo que Deus luta por mim. Que a vida e morte do seu Filho derrotou o acaso e seus demônios. Assim, esperança resurge no caos como uma ave fenix após o fogo. E as baixas dão lugar para novas peças repostas e prontas para mais uma luta.

quinta-feira, agosto 28, 2008

Não, não é fácil


Não, não é fácil. Colocar ordem no caos não é tarefa para qualquer deus. Zeus só conseguiu depois de ludibriar seus inimigos. A ordem só veio após uma confusão resolvida. Até no caos deve haver sentido, ordem e destino. Até a roda viva que gira incontrolável precisa de estar numa direção.

Não, não é fácil: eu não aprendi a viver na caverna escura. Olhar para o reflexo distorcido do mundo real me faz sentir medo. A luz que brilha no outro lado ao mesmo tempo me chama e me amedronta. E antes do seu reflexo me esclarecer, ele me cega!

Não, não é fácil. Entregar-se à Graça sem criar reservas parece tarefa para semi-deuses. E por isso, minha semi-humanidade me atrai ao sossego da escuridão. Nesta inquietude silenciosa custo a compreender que quem vai a minha frente é o Senhor. Relutante, me entrego pela fé, assim mesmo, como sou, como estou. Mas que não é fácil, ah, isso não é!

sexta-feira, agosto 22, 2008

O meu mundo


Como um Demiugo*, vejam o mundo que criei:

No céu, os pássaros divedem espaço com as pipas; nos campos, crianças brincando. Nas ruas, jovens celebrando a vida, com batuques, danças e muita alegria. Não há escolas ou instituições tolas que pervertem os bons costumes. Apenas o bem, pleno em sua força, vigoroso em sua expressão. A arte governa a todos: uma rainha com um cetro de guarda-chuva de frevo.

A lei é a paz que excede todo entendimento. A contemplação é o trabalho de todos; o salário é a sabedoria. As pessoas se sustentam com um vivo pão que cai do céu. E esse é tão saboroso que a constância dele no cardápio diário traz mais apetite para o dia que vem.


O leão brinca de esconde-esconde com a lebre. Quem chegar por último, você já sabe, vira mulher do sapo! As árvores dançam com as mulheres; os rios correm com os homens e as crianças correm com os cavalos!
E o sol da justiça brilha forte, numa aurora eterna...

Enfim, qualquer semelhança deste mundo com outro não é mera coincidência.

Como diria John Lenon, "You may say I'm a dreamer, but I'm not the only one. I hope some day you'll join us, and the world will live as one".

* O que é Demiugo? Leia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Demiurgo

domingo, agosto 17, 2008

Já vem a aurora


Alguns dias atrás tive uma conversa massa com um amigo. Estávamos em frente ao Bernardão e proveitamos pra refletir sobre a proximidade do dia da nossa formatura. Olhávamos para aquele prédio juntos, refletindo o quanto tem sido bom viver aqui, em Viçosa. Surgiu a tristeza, a melancolia. A impressão que tivemos é que para avançar necessário deixar uma vida para trás. Como se a saudade fosse o passaporte para a nova vida depois da formatura. Isso é dor, nada mais.

Até que surge uma possibilidade sábia: podemos levar os amigos conosco, em partes, em nossas vidas. Não poderemos contar suas presenças, mas com o coração de cada um, com um sorriso na mente e as marcas dos abraços. Sobretudo, poderemos experimentar a transcedência dos bons momentos e porque não, dos maus bocados também.

Já estamos na noite da nossa estadia peregrina nesse universo universitário. O calor do sol que brilhara todo o dia já se foi. O frio da noite também teve seu momento de destaque. Agora é anunciada a aurora. E esta vem mais rápida do que a primeira...

*Foto: Paulo (Preto), Eu e Jayme (James). Foi Paulo o grande inspirador dessa discussão. Já o Jayme, confundiou completamente o assunto e o levou para esfera amorosa entre homem/mulher e no fim das contas, nos rendeu boas risadas!

domingo, agosto 10, 2008

O sentido e o amor no caos



O caos dos sentidos preconizam minha dor
que subtrai qualquer certeza que não seja te amar
Mas os sons dos violinos aliviam um pouco a tensão
de não tê-la comigo quando preciso tanto.

Sua presença é mística mesmo quando abraço o vácuo,
quando seu corpo se materializa em minha mente
ou no momento em que sua voz é apenas um som ideal.

O triunfo dos sentidos sobre o caos emerge em mim
Ele vem da certeza que a distância só separa olhares,
ainda que de forma parcial e incompleta,
pois a plenitude é te amar apesar do tudo.

Na caminhada de volta pra casa só se vê saudade
Daquilo que foi e da espectativa do que será
E a nostalgia dos bons momentos dá espaço à nova vida,
daquele que amou e amará agora, no novo caos.

quarta-feira, julho 30, 2008

Aprendendo com a inutilidade

Pela minha falta de inspiração, o texto abaixo é um trecho de uma crônica do Rubem Alves intitulada "A Inutilidade da infância" do livro Estórias para quem gosta de ensinar.

Bom proveito!

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Entre nós inutilidade é nome feio. Já houve tempo, entretanto, em que ela era a marca de uma virtude teologal. Duvidam? Invoco Santo Agostinho, mestre venerável que declara em De Doctrina Christiana: “Há coisas para serem usufruídas, e outras para serem usadas.“ E ele acrescenta: “Aquelas que são para serem usufruídas nos tornam bem-aventurados.“ Coisas que podem ser usadas são úteis: são meios para um fim exterior a elas. Mas as coisas que são usufruídas nunca são meio para nada. São fins em si mesmas. Elas nos dão prazer. São inúteis.

Uma sonata de Scarlatti é útil? E um poema? E um jogo de xadrez? Ou empinar papagaios?

Inúteis.

Ninguém fica mais rico.

Nenhuma dívida é paga.

Por que nos envolvemos nessas atividades, se lhes faltam a seriedade do pragmatismo responsável e os resultados práticos de toda atividade técnica? É que, muito embora não produzam nada, elas produzem o prazer.



sábado, julho 19, 2008

Ainda falando de amor


Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Mt. 22:36-39

Para espantar o sumiço, queria apenas expor alguns devaneios que têm marcado presença na minha mente. A falta de criatividade e inspiração para escrever algo descente só me permite indicar aquilo que tenho pensado. Acredito que tenha uma relevância mínima para vocês, lerem meus amigos!

O eco do post anterior ainda continua por aqui: minha reflexão maior tem sido na natureza inescrutável do amor de Deus. Sua plenitude encarnada em Cristo nos move a vivermos para o outro. Ser, portanto, é viver para servir. É uma nova maneira de encarar a vida, a medida que somos convidados a morrermos para nós e ressustarmos para Deus.

Essa nova vida, entretanto, é sustentada pelo amor e este, se faz visível através da comunhão com os irmãos, da solidariedade e fraternidade. Não existe amor a Deus se o amor ao próximo é inexistente. O apóstolo João - conhecido como o discipulo do Amor - salienta que "Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, não pode amar a Deus, a quem não viu." (1 Jo 4:20). Jesus vai além. Quando ele diz que "sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes." (Mt 25:40).

Dai, consigo entender quando Paulo diz que " toda a lei se cumpre numa só palavra, a saber: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo". (Gal 5:14).Como assim? Acaso não foi Jesus quem disse que o primeiro mandamento era amar a Deus sobre todas as coisas. Sim, certamente, mas foi o mesmo Cristo que não adianta dizer "Senhor Senhor" se não fazer "o bem aos pequeninos".

Portanto, amar a Deus sobre todas as coisas significa, em outras palavras, amar o seu próximo. Foi assim que Jesus demonstrou que nos amou profundamente: lavando os pés dos seus discipulos; comendo com publicanos, prostitutas, pobres e marginalizados. Sem o olhar para o outro não existe devoção a Deus. Sem o "segundo grande mandamento" não existe o primeiro.

Que Deus nos conduza.

sábado, julho 05, 2008

Ainda bem!

Estava pensando nisso aqui, agora pouco: ainda bem que Jesus nos indicou a amar nosso próximo como a nós mesmos. Seria muito ruim se o grande mandamento se resumisse em amar a Deus sobre todas as coisas. Não que isso seja ruim, pelo contrário. Só que pelo pouco que conheço de nossa natureza pecaminosa, seríamos mais fanáticos do que somos. Teríamos uma gana por Deus que nos afastaria das pessoas. Seríamos ambiciosos pelo sagrado, relegando às pessoas um papel secundário.

Ainda bem que Jesus nos indicou um caminho maior. Cristo nos ensinou aquilo que ele fazia. Ninguém amou mais o Pai do que o Filho. E obviamente, ninguém amou tanto seus semelhantes quanto o próprio Jesus. Ele era rodeado de pessoas. De tanta gente que o procurava, ele tinha dificuldade para arrumar momentos de solitude com o Pai. Mas essa era a comunhão de Cristo com Deus, o Pai: servir, sorrir e amar os outros. Os momentos "a sós" com o Pai eram minúsculos, se compararmos sua atuação com os indivíduos.

Quero isso pra mim, de boa mesmo.

Que Deus me ajude!


sexta-feira, junho 27, 2008

Entre o não-ser e o ser outro

Gustavo diz:
ontem eu falei que queria ser uma criança.
Gustavo diz:
brincar na beira do rio
Gustavo diz:
jogar pedra
Gustavo diz:
brincar de carrinho
Gustavo diz:
correr atras de cacharro
Gustavo diz:
mas percebi q criança tb sofre.
Gustavo diz:
e pensei q a decisão de ser outro não evitaria minha dor.
Gustavo diz:
a dor de ser eu mesmo
Gustavo diz:
filosofico?
Keila diz:
verdade.
Keila diz:
haha
Gustavo diz:
vou publicar isso no meu blog

sexta-feira, junho 20, 2008

Ame e deixe-o

Essa semana (16/06) na disciplina de Prática de Ensino em Hist. do Brasil, assisti uma aula sobre a ditadura militar. Achei interessante rever o conhecido slogan nacionalista da década de 1970 - Brasil: Ame ou deixe-o. Nem vou me ater ao absurdo ideológico contido nessa frase, quero simplesmente pensar na contradição óbvia entre amor e egoísmo.

O mais curioso disso é que insistimos em ver sentido nesse paradoxo. Como se a maior característica do amor fosse a posse. É assim quando alguém está interessado em outra pessoa: se tem a idéia que a plenitudade do amor será quando o (a) amante terá o(a) amado (a) em seus braços. Não necessariamente o maior amor é o mais correpondido. Bom, não quero fugir do assunto. O faco não é o platonismo, mas é a característica do amor em se doar, até porque, como diz nas Escrituras, "o amor não busca os seus próprios interesses", mais que isso, o amor "tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta".

O auge desta atitude é o Pai do Filho Pródigo, que suportou a rebeldia e o desamor do filho. Sua atitude foi de total abnegação, uma vez que ela não impôs condições à partida do pródigo. Ao contrário disso, colocamos às pessoas que amamos diversos condicionantes para nos trazer segurança.

Ora, se precisamos de "provas" para sentirmos seguros, logo, nosso amor está alicerçado nos fatos, nas situações. Desta forma, o autruísmo se distancia dando um grande espaço ao egoísmo e ao ciúmes. No entanto, o amor verdadeiro tem tudo a ver com liberdade. Ele libera o outro, sem medo de perdas ou prejuízos. O amor não tem reservas.

Confesso que estou longe desta perspectiva libertária. Talvez, por isso demorei 8 dias pra escrever esse post: por perceber que escrevendo aqui, a ordenação do meu discurso não corresponde ao estado caótico dos meus sentimentos. Contudo, estou disposto a caminhar com passos firmes, mesmo que isso custe meu ego e minha pseudo-segurança.

Que aquele que me amou primeiro me ajude.

segunda-feira, junho 16, 2008

Momento mal humor (ninguém é de ferro)


Sabe quando você acorda achando que o dia vai ser uma droga? Pois é! Um saco! O pior é quando o dia anterior foi diferente. Ter um padrão de comparação tão alto as vezes faz mal. Enquanto ontem eu cantava e sorria, hoje é só trabalho e encheção de saco. E ainda tenho duas aulas chatas a noite!


Dane-se tudo! Não quero saber de coisas; quero amigos, conversas, abraços. Chega de livros e trabalhos.

Quero verborrajar, xingar o tédio, escarnecer a inteligência inútil. Eu quero um conhecimento para vida, história para vida, poesia para vida! Chega de ladainha!

Ahh, estou abarrecido. Isto basta!

=/

domingo, junho 08, 2008

A "velha" e o mocinho

Na última sexta-feira me aventurei a ir ao banco. No meio à demora da fila, gastei um tempo emitindo sons pela boca e batucando sobre minha pernas. Com receio que o barulho incomodasse os "pacientes", fui obrigado a arrumar outro entretenimento. Pensei em refletir sobre o cotidiano daqueles heróis que esperavam pela glória do fim.


Enquanto eu procurava o alívio que poderia compensar o tempo perdido naquele local, comecei a ouvir gritos agudos e fortes. Percebi logo que era uma criança. Por isso me animei. Crianças sempre nos trazem alegria. O menininho tinha mais ou menos 2 anos. Aliás, acho que menos. Ele não falava muitas palavras. Era loirinho e tinha olhos azuis.

Com ele, estavam sua mãe e seu irmão, que deveria ter 8 anos. Este era bem magro e tinha um boné rosa, bem rosa! Sua mãe parecia velha, deveria ter mais de 40. A brincadeira do menino era muito engraçada: ele pegava o boné do irmão, jogava ao chão e gritava: pega! Dai, o irmão ia lá, pegava o boné e colocava na cabeça. Porém, o garoto começava a gritar, e enfim, o irmão devolvia o boné ao seu irmãozinho. E o ciclo recomeçava!

Contudo, o ciclo era criativo: o menino começou a jogar o boné para outras direções. Chegou até a interagir com os outros "esperantes". Mas a mãe tentava interromper o ciclo. Aliás, ela fazia um jogo com ele. Deixava e ao mesmo tempo queria impedir que o menino se expressasse muito. Só que o garotinho era guerreiro: desafiou o tédio com alegria, choro e gritos.

Até que o momento mais esperado chega: a mãe é atendida. Talvez o garotinho não soubesse que esse atendimento poderia significar a benção da saída daquele espaço democratizador do tédio. Para segurar o menino, a mãe coloca o irmão mais velho para cuidar dele. Mas parecia que o irmão também estava tão alheio ao ambiente que deixou o menino ir um pouco além, perto dos atendentes. O pequeno ficou admirado com os computadores, mesas, impressoras, calculadoras, enfim, percebeu atentamente os detalhes do espaço.

E ai, infelizmente, vem a mãe e pega o menino no colo. Entre o choro e tentativas de sair dos braços da mãe, o garoto se rende. O tédio não venceu, não, não venceu. Foi apenas uma trégua resistente, mas trégua. A escolha foi pelos braços da mãe, tenho certeza.

Após o atendimento, a família se vai. E eu, fiquei, esperando por outro momento transcendente.

terça-feira, maio 27, 2008

Vida Simples

A alguns dias atras ouvi uma bela devocional sobre a necessidade de termos uma vida simples. Essa temática retornou à minha pauta reflexiva depois que conversei com uma professora sobre sua vida no Macapá. Comentando a caminhada de alguns de seus conhecidos, ela disse que muitos vivem de forma simples e portanto, sem muitas preocupações com o futuro.

Fiquei muito pensativo no assunto e concluí que esta ambição já foi mais presente em minha vida a algum tempo atrás. Percebi meu conformismo com esse século por diversas vezes me faz cair no que o Paulo Freire denominou de fatalismo neoliberal, que é a crença de que tudo que tudo é contra o sistema está fadado ao fracasso.

Por isso, fico a me questionar: dá pra ter uma vida simples dentro desse sistema desumano de consumismo? A resposta pode ser diversa. Os mais otimistas diriam que sim. Falariam que é tão possível que os mesmos assim o são. Os fatalistas e pessimistas nem respoderiam. Eles apenas esboçariam um sorriso irônico que dispensa qualquer argumento.

Entre o otimismo e o fatalismo eu escolho a esperança. Esta opção sim é pé no chão, pois, ciente das dificuldades, ela se fixa naquilo que transcende a realidade. Ela dispensa o simplismo do otimismo e o radicalismo do pessimismo.

É na esperança viva que podemos confiar que uma vida simples é possível. Podemos dessa forma, como Jesus nos anima, contemplar a beleza poética dos lírios do campo. É preciso que nossa concepção de providência divina seja restaurada, a ponto de confiarmos mais naquele que nunca negou a nós o seu sustento.

Contudo, ao falarmos de esperança, sonho e poesia, as coisas parecem ser fáceis, bonitas e simplistas. Porém, sabemos que não funciona assim. O desafio é caminhar com passos firmes e sem vislumbrar o enorme horizonte em nossa frente. Que a graça de Deus nos mova à simplicidade que o evangelho propõe!

quinta-feira, maio 22, 2008

Do confuso à confusa

Ser confuso ou estar confuso é uma condição terrível. Até porque, o confuso tem uma ligeira noção do que precisa ser feito, contudo, por algum motivo, evoca uma segunda via que aparenta ser melhor q a primeira. O pior da confusão é a sensação de estar perdido, sozinho e sem rumo. Lembro-me, então, daquela canção do Sérgio Pimenta, que diz que "quando se está só, se está porque deseja, pois ele com certeza não foge de ninguém; Deus está sempre perto, amigo, abraço aberto, convida a ir com ele pra não mais estar só.

Dessa forma, posso até ouvir a voz de Cristo, como num sussurro: "vinde a mim voz que estais confusos e sós, e eu os aliviarei"[1]!

Esse alívio não significa a finalidade de nossas provações. Ninguém é provado para depois se sentir bem com o descanso pós-dor. Tampouco, significa que a maior benção daquele que estava confuso é poder ver com clareza o que se quer. O alívio, portanto, só tem seu valor quando aquele que sofreu percebe o sentido da sua luta. O sabor está na labuta, não na vitória. Está no suor da batalha, não nos despojos.

Essa é a lógica do evangelho: a contra lógica do mundo. Pra ganhar a vida tem que perdê-la. Por isso, o confuso que está em Cristo, tem o alento necessário para prosseguir em sua caminhada de maneira firme e consciente . Entre sensações e o desespero, emerge a nossa única certeza: que o Senhor está no controle de todas as coisas - inclusive dos nossos chiliques! Portanto, o poder do evangelho vem, como num crescente movimento, dando-nos a segurança necessária para continuar.

[1] Paráfrase de Mt 11:28

* Dedico essa postagem a uma amiga muito querida.