sexta-feira, junho 27, 2008

Entre o não-ser e o ser outro

Gustavo diz:
ontem eu falei que queria ser uma criança.
Gustavo diz:
brincar na beira do rio
Gustavo diz:
jogar pedra
Gustavo diz:
brincar de carrinho
Gustavo diz:
correr atras de cacharro
Gustavo diz:
mas percebi q criança tb sofre.
Gustavo diz:
e pensei q a decisão de ser outro não evitaria minha dor.
Gustavo diz:
a dor de ser eu mesmo
Gustavo diz:
filosofico?
Keila diz:
verdade.
Keila diz:
haha
Gustavo diz:
vou publicar isso no meu blog

sexta-feira, junho 20, 2008

Ame e deixe-o

Essa semana (16/06) na disciplina de Prática de Ensino em Hist. do Brasil, assisti uma aula sobre a ditadura militar. Achei interessante rever o conhecido slogan nacionalista da década de 1970 - Brasil: Ame ou deixe-o. Nem vou me ater ao absurdo ideológico contido nessa frase, quero simplesmente pensar na contradição óbvia entre amor e egoísmo.

O mais curioso disso é que insistimos em ver sentido nesse paradoxo. Como se a maior característica do amor fosse a posse. É assim quando alguém está interessado em outra pessoa: se tem a idéia que a plenitudade do amor será quando o (a) amante terá o(a) amado (a) em seus braços. Não necessariamente o maior amor é o mais correpondido. Bom, não quero fugir do assunto. O faco não é o platonismo, mas é a característica do amor em se doar, até porque, como diz nas Escrituras, "o amor não busca os seus próprios interesses", mais que isso, o amor "tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta".

O auge desta atitude é o Pai do Filho Pródigo, que suportou a rebeldia e o desamor do filho. Sua atitude foi de total abnegação, uma vez que ela não impôs condições à partida do pródigo. Ao contrário disso, colocamos às pessoas que amamos diversos condicionantes para nos trazer segurança.

Ora, se precisamos de "provas" para sentirmos seguros, logo, nosso amor está alicerçado nos fatos, nas situações. Desta forma, o autruísmo se distancia dando um grande espaço ao egoísmo e ao ciúmes. No entanto, o amor verdadeiro tem tudo a ver com liberdade. Ele libera o outro, sem medo de perdas ou prejuízos. O amor não tem reservas.

Confesso que estou longe desta perspectiva libertária. Talvez, por isso demorei 8 dias pra escrever esse post: por perceber que escrevendo aqui, a ordenação do meu discurso não corresponde ao estado caótico dos meus sentimentos. Contudo, estou disposto a caminhar com passos firmes, mesmo que isso custe meu ego e minha pseudo-segurança.

Que aquele que me amou primeiro me ajude.

segunda-feira, junho 16, 2008

Momento mal humor (ninguém é de ferro)


Sabe quando você acorda achando que o dia vai ser uma droga? Pois é! Um saco! O pior é quando o dia anterior foi diferente. Ter um padrão de comparação tão alto as vezes faz mal. Enquanto ontem eu cantava e sorria, hoje é só trabalho e encheção de saco. E ainda tenho duas aulas chatas a noite!


Dane-se tudo! Não quero saber de coisas; quero amigos, conversas, abraços. Chega de livros e trabalhos.

Quero verborrajar, xingar o tédio, escarnecer a inteligência inútil. Eu quero um conhecimento para vida, história para vida, poesia para vida! Chega de ladainha!

Ahh, estou abarrecido. Isto basta!

=/

domingo, junho 08, 2008

A "velha" e o mocinho

Na última sexta-feira me aventurei a ir ao banco. No meio à demora da fila, gastei um tempo emitindo sons pela boca e batucando sobre minha pernas. Com receio que o barulho incomodasse os "pacientes", fui obrigado a arrumar outro entretenimento. Pensei em refletir sobre o cotidiano daqueles heróis que esperavam pela glória do fim.


Enquanto eu procurava o alívio que poderia compensar o tempo perdido naquele local, comecei a ouvir gritos agudos e fortes. Percebi logo que era uma criança. Por isso me animei. Crianças sempre nos trazem alegria. O menininho tinha mais ou menos 2 anos. Aliás, acho que menos. Ele não falava muitas palavras. Era loirinho e tinha olhos azuis.

Com ele, estavam sua mãe e seu irmão, que deveria ter 8 anos. Este era bem magro e tinha um boné rosa, bem rosa! Sua mãe parecia velha, deveria ter mais de 40. A brincadeira do menino era muito engraçada: ele pegava o boné do irmão, jogava ao chão e gritava: pega! Dai, o irmão ia lá, pegava o boné e colocava na cabeça. Porém, o garoto começava a gritar, e enfim, o irmão devolvia o boné ao seu irmãozinho. E o ciclo recomeçava!

Contudo, o ciclo era criativo: o menino começou a jogar o boné para outras direções. Chegou até a interagir com os outros "esperantes". Mas a mãe tentava interromper o ciclo. Aliás, ela fazia um jogo com ele. Deixava e ao mesmo tempo queria impedir que o menino se expressasse muito. Só que o garotinho era guerreiro: desafiou o tédio com alegria, choro e gritos.

Até que o momento mais esperado chega: a mãe é atendida. Talvez o garotinho não soubesse que esse atendimento poderia significar a benção da saída daquele espaço democratizador do tédio. Para segurar o menino, a mãe coloca o irmão mais velho para cuidar dele. Mas parecia que o irmão também estava tão alheio ao ambiente que deixou o menino ir um pouco além, perto dos atendentes. O pequeno ficou admirado com os computadores, mesas, impressoras, calculadoras, enfim, percebeu atentamente os detalhes do espaço.

E ai, infelizmente, vem a mãe e pega o menino no colo. Entre o choro e tentativas de sair dos braços da mãe, o garoto se rende. O tédio não venceu, não, não venceu. Foi apenas uma trégua resistente, mas trégua. A escolha foi pelos braços da mãe, tenho certeza.

Após o atendimento, a família se vai. E eu, fiquei, esperando por outro momento transcendente.