terça-feira, abril 24, 2007

Sem inspiração (o retorno)

As vezes, não estar inspirado é sinônimo de não ter o que dizer. Ora, por que eu não teria nada a dizer?

Outras vezes, não ter o que dizer é o mesmo de ter tanto a dizer que, atônito, o silêncio torna-se alternativa mais viável.

E mais vezes ainda, os profetas se calam em meio ao barulho ao redor.

E lá vem eu, de novo, sem ter o que dizer por ter muito o que dizer.

Com o silêncio nos lábios e com a garganta abarrotada de palavras forçando para sair.

Mas o silêncio as empurra de volta.

E o barulho continua...

domingo, abril 15, 2007

A Facilidade do sofrimento



O sofrimento é a coisa mais linda. Sorrisos são escancarados frente ao sofrimento. A dor é expressa nas danças e na poesia. O pranto, ao invés de angústia, torna-se simplesmente lágrimas que escorrem no rosto, sem ter significado doloroso, que por sua vez, denota mais festa do que qualquer outra coisa.

Não se assustem. Isso não é sofrimento, obviamente, é apenas o discurso dos que não sofrem. Falam do sofrimento como se fosse uma música triste que desperta uma pequena sensação. São palavras tão distantes da realidade, que não nos convence, pelo contrário, demonstram superficialidade, inexperiência e conclusões sofísticas totalmente teóricas e desvinculadas da verdade.

O leitor atento poderia perguntar: “acaso não são todos que sofrem”? Eu responderia sim ao meu questionador, porém, falaria que nem todos possuem um espinho na carne que, de tão agudo, sua ponta perpassa o âmago da alma, de forma a sair dos lábios do que sofre um grito por tamanha dor.

Quando o apóstolo Paulo refletiu sobre sua vulnerabilidade diante seu sofrimento, o próprio Deus apontou o sentido da dor do que sofre, dizendo: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.”[1]. Enquanto Paulo buscava o alívio imediato[2], o Senhor dava ao apóstolo a segurança verdadeira, que é o total despojar do homem sob a direção e o controle de Deus. Isto é dizer que a Graça de Deus nos basta.

Por isso Paulo pôde afirmar que “de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas”[3], não porque sofrer é bom, mas sim, pelo fato de que pelo sofrimento, podemos compreender o real significado da total dependência de Deus. Portanto, a beleza não pode estar firmada no sofrimento em si, mas naquele que nos dá Graça para caminhar, a saber, o próprio trino Deus.

Nossa esperança é a certeza de que um dia, o Senhor enxugará do nosso rosto toda lágrima[4]. Minha oração é que vivamos a convicção de que, “leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória;”[5]. Assim, podemos prosseguir a entender que o sofrimento é doloroso, difícil, porém, nossa tranqüilidade reside na Graça de Deus, não nos nossos sentimentos.

"e o espinho da carne perpassa minha alma. Eis que surge um gemido no espírito: a Tua Graça me basta!"


[1] 2 Coríntios 12: 9a

[2] No que tange seu sofrimento, Paulo afirmou que por “três vezes rogou ao Senhor que o afastasse dele” (2 Cor 12:8)

[3] 2 Cor 12: 9b

[4] Apocalipse 7: 17

[5] 2 Cor 4: 17