terça-feira, março 24, 2009

Palavras II



Deixar com que as palavras venham à cabeça. Aliás, elas já estão aqui. A tarefa maior é relaxar para que cada uma delas tomem seus lugares, pois no congestionamento dos verbos alguém tem que ceder. É assim que as idéias ganham espaço: quando as viagens dão lugar para o concreto. Agora é assim, decidi ser prático, objetivo, sucinto. O processo de depuração dos meu códigos simbólicos virá quando cada poesia morta fizer nascer algum movimento verdadeiro que venha de dentro pra fora. Caso contrário, fica tudo um emaranhado de palavras com sentidos que, de tão diversos, tornam-se confusos. Quem falou que o motim das idéias gera mais tumulto? Não existe esperança na balbúrdia? Não sei, só sei que minha mente não tem liturgia. A ordem começa no fim, depois passa pelo começo que vai direto para o entrepasso da metade. Tudo isso numa oscilação desordenada pelo ritmo da batida dos meus pés. Não reconheço o que é ordem, mas suponho que a contraprova da verdade seja o desejo dela. É a face oculta da moeda sem valor. Assim, descubro que o surreal é cheio de verdade, de realidade. Enxergo então a beleza da vida, do sofrimento, o sentido da angustia que as vezes abate a minha´lma que cansa quando me sinto assim, só. Vem a sua imagem. Chega sua presença. E me rendo, e me entrego, e digo: eu sou do meu amado e Ele é meu. Me perco, me acho e assim, me desfaleço em ti.

terça-feira, março 17, 2009

A beleza dos campos brancos


A brancura dos campos relaxam os olhos. Estão prontos! As flores podem ser vistas num movimento épico de beleza e muito brilho. Tudo coopera para embelezar este cenário. Não bastava aquele lírio solitário para eternizar aquele momento? Não, Deus é insistente quando o assunto é beleza. Até os céus se abrem e nuvens dividem espaço com os raios do sol. Tudo é azul, branco e amarelo. Aliás, a mestiçagem das cores não permite muita definição. As árvores gigantes bailam com os pássaros que brincam em resistir a força do vento. Nem adianta fotografar. Enquadrar aquele cenário é limitar a solenidade daquela visão. O melhor é ver, cheirar, sentir! Nem se atreva fechar os olhos para se imaginar flutuando com as plumas que navegam no ar. Deixe seu corpo ir, vir, cair... Quando chegar a noite, não tenha medo da ausência da luz. Os olhos das feras te servirão de guia. Não se esqueça dos vaga-lumes, eles nunca nos deixam sós!

segunda-feira, março 02, 2009

A surpresa


Tem situações que as palavras não conseguem interpretar nossas intenções. Eu até queria começar esse post dizendo "surpresa!". Se fosse possível iniciar o texto falando, eu aumentaria levemente meu tom de voz e diria "surpresa!". Aliás, eu daria mais ênfase na última sílaba. Ainda sim faltaria algum elemento que tornasse minha representação mais digna da minha expressão interior.

Para melhorar, eu teria que acrescentar outros recursos. Talvez, usaria minha expressão facial para finalizar a soma das palavras faladas com a exclamação do meu rosto. O "surpresaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!" sairia mais leve e mais dramatizante. Daria uma maior impressão de realidade.

Ah, eu queria mesmo era falar de realidade. Mais de realidade do que de surpresa. Na verdade, quem bancou de garoto surpresa comigo foi a realidade - é engraçado que a forma que cito a "realidade" parece até que ela é alguém. Pode ser. O ponto é que o estágio em que me encontro, de alguma forma me surpreendeu que ela, a realidade, pode ser melhor do que os meus sonhos. Foi uma surpresa engraçada! De fato, surpresas sempre nos tiram algum sorriso. São cômicas porque nos oferecem uma versão mais agradável do tempo presente.

A surpresa que a realidade me trouxe foi ambígua. Me surpreendi com isso também. De um lado, a realidade se mostrou mais forte que o sonho. Foi a sua auto-afirmação. De outro, ela demonstrou que sua delícia está em surpreender naquilo que o sonho não pode dar, que é o evento em si, o momento imaginado, o fato nascido, o objeto acalentado. Para isso, antes, é preciso sonhar. A realidade sem o sonho não tem sabor. É um presente cru, sem surpresas, sem esperanças. A vitória da realidade não é o triunfo sobre o sonho. É a alegoria da celebração do espírito que ganhou um corpo esperado.

Me surpreendi. O sonho elevado tinha espectro impossível. Era bom demais para ser verdade. Sua realização transformou-se igualmente em alegria e espanto. Alegria pelo motivo óbvio, e espanto, pelo excesso de alegria. Foi assim que a realidade apareceu e disse que o sonho se transformou. Foi-se o espanto. Ficou a alegria, a surpresa, o excelso excesso.