sábado, dezembro 16, 2006

A Totalidade da Graça

Muito me intriga a dicotomia entre espiritual e secular que os cristãos acreditam. Parece que Cristo é apenas Senhor da nossa espiritualidade, não das nossas atividades, sentimentos e relacionamentos. Quando assim pensamos, enganamos a nós mesmos. Ou Cristo está presente em nossa vida como um todo, ou está ausente. Não existe uma presença parcial ou incompleta.

Aliás, na carta de S. Paulo aos Efésios cap 1:10, mostra que através do sacrifíco de Cristo na Cruz, ele fez congregar Nele, "todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra". Isso significa que todas as coisas estão convergidas em Cristo mediante a redenção. Ora, por que insistimos em compartimentar nossa vida no que é ou não espiritual, sendo que em Cristo está todo o domínio?

Portanto, espiritualidade é conseqüentemente, um caminhar na totalidade da Graça. É compreender que, "quer comamos, quer bebamos, quer façamos qualquer outra coisa, fazemos para glória de Deus" - como disse S. Paulo. Ora, glorificar a Deus não se restringe a cultos e devocionais, mas num caminhar reconhecendo Cristo como Senhor, adorando-o com a vida, fazendo com que Cristo esteja presente em cada parte de nossa vida.

Isso significa que somos livres para o mal? Certamente que não. Dizer que todas as coisas convergem para Cristo não é afirmar que o pecado faz parte desse pacote. Somos pecadores e todas as nossas obras, sejam elas boas ou não, estão manchadas e distorcidas pelo pecado. Porém, é aí que entra a totalidade da Graça. Somos completamente pecadores, mas plenamente redimidos. Portanto, o não espiritual em nossa vida não é o não religioso, mas aquilo que de alguma forma não revela nosso carater de redimidos.

Entretanto, não dá pra dizer ao certo o que em nossa vida secular contradiz a Graça, pois, em suma, tudo deveria convergir. Portanto, o que nega e diverge com nossa redenção, é pecado. Ou seja, pecado não tudo que é secular, porém, tudo que nos impede de vislumbrar a Graça e de ter um maior comunhão com Deus. Isso pode ser relativo de cultura para cultura e de pessoa para pessoa. O que nos resta é conhecer os princípios bíblicos, para que possamos refletir sobre o que fazemos ou pensamos.

Lembremos, como disse C. S. Lewis no livro Cristianismo Puro e Simples, o critianismo não é a religião da abstêmia, mas da moderação e do "tudo é lícito, mas nem tudo convém". Que tenhamos sabedoria para não rejeitar as coisas boas da vida em nome de Cristo, pois muitas destas coisas são saudáveis a nós. O que nos "edifica" não é apenas o que é falado na igreja, mas aquilo que nos completa, tanto no nosso caminhar diário com Deus, quanto no nosso crescimento como seres humanos.

"Porque dele e por Ele, e para ele são todas as coisas".

3 comentários:

Renato Luiz disse...

Muito bom o post Fiote...
O livro "Cosmovisão Cristã" me ajudou a refletir bastante sobre isso...
Pelo jeito tá te ajudando também né?!
Um grande abraço...
Deus te abençoe!

Alberto Vieira disse...

oá Gustavo!

eh eu diria que essa separação em nossa vida , como diria o lukinhas não é de Deus..hehe..

tem um outro livro mutio bom sobre isto também.. que se chama santitade a seu alcance...


um grande abraço

Xoyo disse...

Agradecendo a visita. Curioso, como foi para no nosso blog?
Comentando, acredito piamente na graça é já fui condenado por causa disso.
E respondendo: Quanto à relevância da tradição, ela, pelo contrário, só se torna relevante quando se torna vaidade, pois vão é tudo aquilo que se deixa levar pelo vento do Espírito. E é justamente o contrário quando a tradição se torna rígida, dura e pesada, pois quando ela é pesada e "grave" que ela nos leva "para baixo", e é isto que é a própria gravidade, aquilo que nos leva para baixo. A tradição, portanto, precisa ser redimida de todo peso morto, mas isto somente se faz dando vida à ela e não escolhendo uma coisa ou outra dela. Pois escolher uma coisa ou outra é só diminuir um pouco o peso e se sentir capaz de carregar alguns pesos e outros não, ou pensar que alguns pesos "valem a pena" carregar e outros não. Mas isso é justamente não discernir que o pecado está em tudo mas que a graça também pode redimir tudo. A tradição, portanto só é relevante quando o encontro com ela é uma forma de encontro com a graça, como eu disse antes quando ela se torna vaidade levada pelo Vento. Quando o mesmo Espírito que nos anima passa a animá-la também. Quando, no entanto, a encaramos como "mais valiosa" ou "menos valiosa" do que nós mesmos estamos sendo incapazes de discernir a ação do Espírito que tudo redime na tradição. Pois quando achamos que ela é mais valiosa pensamos nela como uma "sólida" fonte de certezas, e passamos a confiar menos no espírito e mais nas certezas da tradição. E quando achamos ela menos valiosa ocorre o mesmo, achamos que nós temos as verdadeiras certezas e igualmente confiamos mais em nossas certezas do que no confronto que o Espírito pode estar nos trazendo com a tradição. Em ambos os casos somos orgulhosos e rejeitamos a graça.
Creio que é isso.

Xoyo
Sola Gratia

ps: remeto para um outro post do nosso blog
http://osdecadentes.blogspot.com/2006/10/o-que-isto-decadncia.html